Fonte Jornal de Londrina
Conversa pelo aplicativo Whatsapp mostra estudantes de Direito
ridicularizando Celiana Lúcia da Silva, que é negra
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09/09/2014 | 00:01Marcelo
Frazão
Após passar o fim de semana em dúvida, a professora Celiana Lúcia da
Silva, 48 anos, decidiu tomar uma atitude na manhã de ontem: assim que entrou
na Faculdade Arthur Thomas, em Londrina, onde estuda o 4º ano de Direito, ligou
para a Polícia Militar (PM) para denunciar atos de injúria racial e racismo
cometidos contra ela.
No relato à PM, Celiana acusou colegas de sala de ofensas graves, com o
uso de frases racistas, que ridicularizavam a cor e as roupas dela. Como
provas, usou diálogos travados pelo grupo no aplicativo Whatsapp, do qual ela
não fazia parte. A estudante foi avisada das injúrias por uma amiga.
Em uma das conversas, os alunos comentam uma foto feita do pé dela. “É o
pé da Celiana?”, pergunta um deles. “Com meia ou sem meia?”, ironiza outro, referindo-se
à cor da pele dela. Outros estudantes também entram na conversa. “Achava que
ela tava [sic.] de meia preta.”
“Já passei por várias situações de racismo. Mas essa me entristeceu mais
por serem alunos de Direito e colegas de faculdade”, diz Celiana, que há 15
anos é também professora da rede estadual e ativista nas discussões sobre como
o racismo pode ser tratado no ambiente escolar. “O pior é o sentimento de
humilhação e de rejeição.”
A PM entrou na faculdade e identificou cinco alunos envolvidos nas
mensagens. Segundo o delegado-chefe de Londrina, Márcio Amaro, todos serão
ouvidos no inquérito aberto pela Polícia Civil, a partir do Boletim de
Ocorrência da PM.
“Os comentários foram para várias pessoas. Registrei o caso na Ouvidoria
da faculdade na semana passada, mas senti como se fosse um problema que deveria
resolver sozinha”, queixou-se Celiana. “Não vi uma atitude pedagógica correta.”
Para Celiana, denunciar foi um passo difícil, mas necessário. “As
pessoas não podem ser tímidas. Pensei muito e decidi que seria a última vítima
desse grupo.”
Faculdade
“Lamentamos e não concordamos com qualquer postura racista. Vamos investigar a partir das provas e tomaremos uma decisão à altura do problema”, garantiu Francielle Calegari de Souza, coordenadora do curso de Direito da Faculdade Arthur Thomas.
“Lamentamos e não concordamos com qualquer postura racista. Vamos investigar a partir das provas e tomaremos uma decisão à altura do problema”, garantiu Francielle Calegari de Souza, coordenadora do curso de Direito da Faculdade Arthur Thomas.
Em 2013, a instituição foi uma das poucas que debateu o Dia da
Consciência Negra na cidade. “Prevenimos e abordamos a questão dentro do nosso
currículo, mas não temos como controlar o que os alunos fazem fora daqui ou
pelo celular. Não seremos coniventes”, assegura.
Os alunos podem expulsos ao final da apuração interna.
Crime
O crime de injúria racial é caracterizado por ofensas que usam elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. A pena varia entre um e três anos de prisão.
O crime de injúria racial é caracterizado por ofensas que usam elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. A pena varia entre um e três anos de prisão.
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