Via Gazeta do Povo
Publicado em 15/09/2014
A política brasileira está podre. Ela é movida a dinheiro e poder. “Dinheiro
compra poder, e poder é uma ferramenta poderosa para se obter dinheiro. É disso
que se tratam as eleições: o poder arrecada o dinheiro que vai alçar os
candidatos ao poder. Saiba que você não faz diferença alguma quando aperta o
botão verde da urna eletrônica para apoiar aquele candidato oposicionista que,
quem sabe, possa virar o jogo. No Brasil, não importa o Estado, a única coisa
que vira o jogo é uma avalanche de dinheiro. O jogo é comprado, vence quem paga
mais.” Assustador o diagnóstico que o juiz Marlon Reis faz da política
brasileira. Conhecido por ter sido um dos mais vibrantes articuladores da
coleta de assinaturas para o projeto popular que resultou na Lei da Ficha Limpa,
foi o primeiro magistrado a impor aos candidatos a prefeito e vereador revelar
os nomes dos financiadores de suas respectivas campanhas antes da data da
eleição. Seu livro O nobre deputado: relato chocante (e verdadeiro) de como
nasce, cresce e se perpetua um corrupto na política brasileira inspirou o
título deste artigo.
A radiografia do juiz, infelizmente, acaba de ser
poderosamente confirmada pelas revelações feitas pelo ex-diretor de
Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Durante oito anos – de 2004 a
2012 – os contratos da maior empresa brasileira com grandes empreiteiras eram
usados como fonte de propina para partidos e políticos. Dá para entender as
razões da crise da Petrobras. É pilhagem, saque, puro banditismo. Atinge em
cheio os governos de Dilma e Lula.
Trata-se só do começo. O ex-diretor decidiu fazer a delação
premiada para tentar encurtar sua temporada na prisão. Não quer repetir a
experiência de Marcos Valério, condenado a 40 anos de prisão. Quando Valério
quis fazer acordo de delação premiada, o operador do mensalão não tinha mais
nada a oferecer à Justiça porque o esquema já estava desvendado. Agora, a
conversa é outra. Com o processo no início, não havendo ninguém denunciado, é o
momento propício para Costa oferecer aquilo de que os investigadores precisam:
os autores e as provas do crime. As coisas estão difíceis para os acusados.
O novo escândalo é a ponta do iceberg de algo mais profundo:
o sistema eleitoral brasileiro está bichado e só será reformado se a sociedade
pressionar para valer. Hoje, teoricamente, as eleições são livres, embora o
resultado seja bastante previsível. Não se elegem os melhores, mas os que têm
mais dinheiro para financiar campanhas sofisticadas e milionárias. Empresas
investem nos candidatos sem qualquer idealismo. É negócio. Espera-se retorno do
investimento.
Indignação? Desencanto? É óbvio. O macroescândalo da
Petrobras promete. O mensalão vai parecer um berçário. O Brasil está piorando?
Não. Está melhorando. A exposição da chaga é o primeiro passo para a cura do
doente. Ao divulgar as revelações do ex-diretor da Petrobras, a imprensa cumpre
um papel relevante: impede que o escândalo fique na gaveta de uma CPI do
Congresso.
Existem razões para otimismo? Acho que sim. A Lei da Ficha
Limpa começa a dar seus primeiros frutos. Paulo Maluf e José Roberto Arruda,
entre outros, podem estar fora das próximas eleições. A promiscuidade entre
políticos e empresas parece estar com os dias contados. O Supremo Tribunal
Federal (STF) provavelmente votará pelo fim das doações de empresas, na ação
movida nesse sentido pela OAB. A imprensa de qualidade, livre e independente,
está aí. Incomodando. Felizmente.
Leia jornais. Informe-se. Acredite no Brasil, não em
salvadores da pátria. E vote bem. O caminho é longo. Mas vale a pena.
Carlos
Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é
diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências
Sociais (Iics).
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