terça-feira, 2 de setembro de 2014

O PRECONCEITO MASCARADO E A DIFICULDADE DOS AFRO-DESCENDENTES AS ESTRUTURAS DE PODER.


Por  Tamara da Silva - Advogada 

Poucas sociedades passaram, nas últimas décadas, por tão profundas e rápidas transformações como a sociedade brasileira. Porém, mesmo tendo passado por essas transformações, nossa sociedade ainda apresenta velhos problemas que permanecem cada vez mais vivos. Um deles é a questão das precárias possibilidades de acesso dos afro-descendentes às oportunidades de mobilidade social.
                         Os baixos índices de afro-descendentes que conseguem chegar às universidades e dar seqüência aos seus estudos, a desproporcionalidade de renda que mantém esse grupo de pessoas nas camadas inferiores da pirâmide social e toda sorte de discriminação em função da cor da pele e não em razão de suas capacidades, são indicativos disso.
Essa realidade é visível nos bancos escolares, nas empresas e no Estado, onde o fato do poder político concentra-se nas mãos de uma minoria o que agrava ainda mais a situação de injustiça social e de tolhimento do exercício da cidadania.
Para se contrapor a essa discriminação surge um movimento no meio da sociedade que busca resgatar a dignidade daqueles que foram alijados da possibilidade de ascensão social por causa da cor da sua pele um  movimento que luta por política de cotas para afro-descendentes a partir da reivindicação de acesso às universidades e em concursos públicos.
                  Atualmente, temos uma lei que reserva vagas, mediante cotas em universidades e alguns concursos públicos, contudo o racismo no Brasil se apresenta como um dos grandes desafios a serem superados pela população negra, já que esta condição, acrescida da distribuição injusta da riqueza e dos inúmeros benefícios gerados pela política econômica à classe dominante, notadamente “branca”, relegam a grande maioria negra a condições extremamente precárias de sobrevivência.
         Acredito que a luta política pela igualdade entre negros e “brancos” não está desconectada da luta pelo fim de uma sociedade que tende a homogeneizar culturas, hierarquizar e coisificar as relações entre as pessoas que, em última instância, estão condenadas a serem reduzidas simultaneamente a consumidores e mercadorias.
                Assim sendo, entendo que para que homens e mulheres sejam humanamente emancipados de fato– já que a emancipação política já ocorreu pelo menos na teoria– e assim tenham todos as mesmas condições de desenvolver suas potencialidades e uma autêntica individualidade, se faz necessário, antes de tudo, repensar radicalmente este modelo de organização da vida econômica, social e política.
Na luta pelo seu espaço, a conquista de política de cotas dá-se em 2001, ano em que foi introduzida pela primeira vez no Brasil, sendo adotada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Em 2002, a governadora daquele estado, Benedita da Silva (afro-descendente), regulamentou a lei das cotas, dando, a partir daquele momento, o início oficial do sistema de cotas para afro-descendentes em universidades brasileiras. Mas a minha pergunta é justamente essa, será que as cotas resolveram o nosso problema? Será que essa não é mais uma forma de discriminar aqueles que tanto sofreram? Existem relatos de jovens que são discriminados dentro das universidades e repartições públicas por ocuparem vagas oriundas de cotas raciais, ou seja, o problema se agrava ao invés de igualar as pessoas.
               Entendo que a política correta a ser feita seria um trabalho nos bancos escolares, através de uma boa educação, suporte, cursos de qualificação e pré-vestibulares para que os afro-descendentes e todas as demais etnias pudessem ter uma boa formação e participarem dos concursos de igual para  igual sem exatamente a necessidade de cotas raciais.
           Quando recebi o convite para fazer parte da comissão da OAB/PR de igualdade e gênero, confesso que fiquei com receio, pois as pessoas sempre tendem a levar as coisas para o outro lado, mas acredito que já está mais do que na hora de tomarmos a frente de nossas causas e lutas. Para mim que sou afro-descendente, oriunda das camadas pobres da população é mais do que um prazer um dever meu para com a sociedade afro-descendente fazer frente dessas lutas para acabar com o racismo e a desigualdade em nossa sociedade e mostrar sim nos somos tão competentes quanto qualquer outra pessoa, merecemos e queremos respeito, e as cotas não são nenhuma caridade por inferioridade é uma questão de amenizar as desigualdade e bem verdade que se houvesse um programa social de melhora na educação e nas estruturas de bases, não haveria o porque das cotas.


Dra. Tamara da  Silva é advogada e Membro da Comissão da Igualdade Racial e Gênero da OAB/PR 

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