quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Preconceito racial no Brasil: algumas reflexões

         



                                      Por  Tamara Da Silva – Advogada  

          Importante lembrar  que há pouco tempo o Supremo Tribunal Federal ainda julgava a constitucionalidade das cotas raciais em universidades públicas, despertando assim  várias discussões na imprensa e nas redes sociais sobre o racismo na sociedade brasileira.
        Nesse ínterim, é possível depreender o quanto ainda persiste o mito e a hipocrisia  de que o Brasil seria uma “democracia racial” em que, a despeito do preconceito, não haveria nem nenhum sentimento de superioridade para com aqueles tidos como diferentes pela massa da sociedade.
     Não pretendo, aqui, contudo alimentar falácias e abrir mais debates sobre as cotas e seus efeitos, nem tampouco discutir a questão do racismo individual enquanto preconceito (que envolvem sentimentos, crenças etc..) daqueles que se julgam superiores aos demais por conta de sua raça e sua posição social.
        Meu intuito com o presente  é o outro. Quero sim  chamar atenção para o que ficou ausente em meio a todas essas discussões que tangem a questão racial no Brasil, pois bem; vamos aqui falar sobre o preconceito mascarado.
          Nesta reflexão, proponho seguir a análise  da ciência social, no que tange as relações raciais e digo raciais não apenas me referindo aos negros, mas a todas as raças:
           Poucas sociedades passaram, nas últimas décadas, por tão profundas e rápidas transformações como a sociedade brasileira. 
            Porém, mesmo tendo passado por essas transformações, nossa sociedade ainda apresenta velhos problemas que permanecem cada vez mais vivos. Um deles é a questão das precárias possibilidades de acesso dos afro-descendentes, homossexuais, indígenas e todos aqueles que são tidos como diferentes pela sociedade aos meios institucionais públicos.
           Os baixos índices de afro-descendentes, indígenas e etc.. que conseguem chegar às universidades e dar seqüência aos seus estudos, a desproporcionalidade de renda que mantém esse grupo de pessoas nas camadas inferiores da pirâmide social e toda sorte de discriminação em função da cor da pele ou opção sexual e não em razão de suas capacidades, são indicativos disso, da crueldade da sociedade que discrimina pela cor e pelo gênero, banindo da sociedade aqueles que não estão de acordo com o padrão.
              Essa realidade é visível nos bancos escolares, nas empresas e nos órgãos institucionais, onde o fato do poder político concentra-se nas mãos de uma minoria o que agrava ainda mais a situação de injustiça social e de tolhimento do exercício da cidadania.
             E o que sobra para essa parcela de gente que é discriminada “feito “ uma coisa ruim”?
Para se contrapor a essa discriminação surgem movimentos no meio da sociedade que buscam resgatar a dignidade daqueles que foram alijados da possibilidade de ascensão social por causa da cor da sua pele, gênero ou opção sexual.
Movimentos que lutam para verem os seus direitos assegurados.  
                  Atualmente, temos uma lei que reserva vagas, mediante cotas em universidades e alguns concursos públicos, contudo o racismo e a discriminação de gênero no Brasil se apresenta como um dos grandes desafios a serem superados pela população principalmente para essa massa que sofre o preconceito diariamente, seja no trabalho, na escola ou nas universidades, já que esta condição, acrescida da distribuição injusta da riqueza e dos inúmeros benefícios gerados pela política econômica à classe dominante, relegam a grande maioria a condições extremamente precárias de sobrevivência.
         Acredito que a luta política pela igualdade de raça e gênero não está desconectada da luta pelo fim de uma sociedade que tende a homogeneizar culturas, hierarquizar e coisificar as relações entre as pessoas que, em última instância, estão condenadas a serem reduzidas simultaneamente a consumidores e mercadorias.
                Assim sendo, entendo que para que homens e mulheres sejam humanamente emancipados de fato– já que a emancipação política já ocorreu pelo menos na teoria– e assim tenham todas as mesmas condições de desenvolver suas potencialidades e uma autêntica individualidade, se faz necessário, antes de tudo, repensar radicalmente este modelo de organização da vida econômica, social e política, desmascarar o preconceito, encarar a realidade, sim nós brasileiros somos um pais preconceituosos, temos dificuldade de lidar com os diferentes de aceitar aqueles que fogem um padrão tido como modelo.
        Só assim estaremos finalmente trabalhando para um futuro onde o preconceito de fato tenha ficado para trás.

Dra. Tamara da Silva é advogada e Membro da Comissão de Igualdade Racial e Gênero  da OAB/PR


Nenhum comentário:

Postar um comentário