Por Tamara Da Silva – Advogada
Importante lembrar que há pouco tempo
o Supremo Tribunal Federal ainda julgava a constitucionalidade das cotas
raciais em universidades públicas, despertando assim várias discussões na imprensa e nas redes
sociais sobre o racismo na sociedade brasileira.
Nesse ínterim, é possível depreender o quanto ainda persiste o mito e a
hipocrisia de que o Brasil seria uma
“democracia racial” em que, a despeito do preconceito, não haveria nem nenhum
sentimento de superioridade para com aqueles tidos como diferentes pela massa
da sociedade.
Não pretendo, aqui, contudo alimentar falácias e abrir mais debates sobre
as cotas e seus efeitos, nem tampouco discutir a questão do racismo individual
enquanto preconceito (que envolvem sentimentos, crenças etc..) daqueles que se
julgam superiores aos demais por conta de sua raça e sua posição social.
Meu
intuito com o presente é o outro. Quero
sim chamar atenção para o que ficou
ausente em meio a todas essas discussões que tangem a questão racial no Brasil,
pois bem; vamos aqui falar sobre o preconceito mascarado.
Nesta reflexão, proponho seguir a
análise da ciência social, no que tange
as relações raciais e digo raciais não apenas me referindo aos negros, mas a
todas as raças:
Poucas sociedades
passaram, nas últimas décadas, por tão profundas e rápidas transformações como
a sociedade brasileira.
Porém, mesmo tendo passado por essas
transformações, nossa sociedade ainda apresenta velhos problemas que permanecem
cada vez mais vivos. Um deles é a questão das precárias possibilidades de
acesso dos afro-descendentes, homossexuais, indígenas e todos aqueles que são
tidos como diferentes pela sociedade aos meios institucionais públicos.
Os baixos índices de
afro-descendentes, indígenas e etc.. que conseguem chegar às universidades e
dar seqüência aos seus estudos, a desproporcionalidade de renda que mantém esse
grupo de pessoas nas camadas inferiores da pirâmide social e toda sorte de
discriminação em função da cor da pele ou opção sexual e não em razão de suas
capacidades, são indicativos disso, da crueldade da sociedade que discrimina
pela cor e pelo gênero, banindo da sociedade aqueles que não estão de acordo
com o padrão.
Essa realidade é visível nos
bancos escolares, nas empresas e nos órgãos institucionais, onde o fato do
poder político concentra-se nas mãos de uma minoria o que agrava ainda mais a
situação de injustiça social e de tolhimento do exercício da cidadania.
E o que sobra para essa parcela de
gente que é discriminada “feito “ uma coisa ruim”?
Para se contrapor a essa discriminação surgem movimentos no meio da
sociedade que buscam resgatar a dignidade daqueles que foram alijados da
possibilidade de ascensão social por causa da cor da sua pele, gênero ou opção
sexual.
Movimentos que lutam para verem os seus direitos assegurados.
Atualmente, temos uma lei que reserva vagas, mediante cotas em universidades e
alguns concursos públicos, contudo o racismo e a discriminação de gênero
no Brasil se apresenta como um dos grandes desafios a serem superados pela
população principalmente para essa massa que sofre o preconceito diariamente,
seja no trabalho, na escola ou nas universidades, já que esta condição,
acrescida da distribuição injusta da riqueza e dos inúmeros benefícios gerados
pela política econômica à classe dominante, relegam a grande maioria a
condições extremamente precárias de sobrevivência.
Acredito que a luta política pela igualdade de raça e gênero não está desconectada
da luta pelo fim de uma sociedade que tende a homogeneizar culturas,
hierarquizar e coisificar as relações entre as pessoas que, em última
instância, estão condenadas a serem reduzidas simultaneamente a consumidores e
mercadorias.
Assim sendo, entendo que para que homens e mulheres sejam humanamente
emancipados de fato– já que a emancipação política já ocorreu pelo menos na
teoria– e assim tenham todas as mesmas condições de desenvolver suas
potencialidades e uma autêntica individualidade, se faz necessário, antes de
tudo, repensar radicalmente este modelo de organização da vida econômica,
social e política, desmascarar o preconceito, encarar a realidade, sim nós
brasileiros somos um pais preconceituosos, temos dificuldade de lidar com os
diferentes de aceitar aqueles que fogem um padrão tido como modelo.
Só assim estaremos finalmente
trabalhando para um futuro onde o preconceito de fato tenha ficado para trás.
Dra. Tamara da
Silva é advogada e Membro da Comissão de Igualdade Racial e Gênero da OAB/PR
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