via gazeta do povo
ÁGUAS DE JUNHO
Falta estrutura ao
Paraná para enfrentar desastres naturais
Com quase meio milhão de pessoas afetadas pelas
chuvas do fim de semana, só um a cada quatro municípios do Paraná tem plano de
contingência
11/06/2014 | 00:04 | KATIA
BREMBATTI
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“Eu nem sabia que era o coordenador da
Defesa Civil da cidade”. Assim, o funcionário de uma prefeitura do interior do
Paraná respondeu quando foi procurado pela coordenadoria estadual de prevenção
a desastres. O caso ilustra o desleixo com que algumas localidades tratam o
sistema que deve proteger e socorrer a população. Apesar de estar presente, na
teoria, em todos os 399 municípios do Paraná, a Defesa Civil local costuma ser
negligenciada. “A estrutura é pouco proativa, é uma questão crônica do modelo
de gestão da defesa civil no país”, comenta o capitão Eduardo Gomes Pinheiro, à
frente da prevenção de desastres no Paraná. Ele comenta que falta pessoal
preparado e que evitar tragédias não esta na lista de prioridades dos gestores.
“Nunca estivemos tão bem, mas ainda estamos longe do ideal”, resume.
União da
Vitória decreta calamidade pública
Com cerca de 40% da
área urbana do município afetada pelas chuvas, União da Vitória, no Sul do
Paraná, está em estado de calamidade pública. O decreto que eleva ao máximo o
nível de prejuízos causados à cidade foi assinado no fim da tarde de ontem pelo
prefeito Pedro Ivo Ilkiv. Este foi o primeiro município do estado a decretar
estado de calamidade pública. Em razão dos temporais que assolaram o Paraná no
último fim de semana, outras 132 cidades paranaenses estão em situação de
emergência.
De acordo com a
assessoria de imprensa de União da Vitória, aproximadamente 3 mil famílias
estão desabrigadas e desalojadas na cidade, chegando a quase 12 mil o número de
pessoas atingidas com as chuvas. Dos que estão fora de suas casas, 358 deles
estão distribuídos em cinco abrigos no município.
A área rural da
cidade está isolada. Acessos que ligam União da Vitória a cidades estão
comprometidos, e o nível do Rio Iguaçu continua subindo. Conforme mostra o
monitoramento hidrológico do Iguaçu pela Copel, o nível do rio no município
subiu de 4,54 metros no domingo para 7,99 metros às 19 horas de ontem.
Tragédia
Número de pessoas afetadas mais que
quadruplica em um dia
Angieli Maros, Derek Kubaski, Angieli
Maros e Antonio Senkovski
Desde o fim de semana
o número de cidades atingidas por alagamentos, enxurradas e outros desastres
causados pelas chuvas caíram no estado no fim de semana para de aumentar. No
último boletim da Coordenadoria Estadual da Defesa Civil chega a 445.876 o
número de pessoas afetadas pela tragédia. Comparado ao primeiro boletim de
ontem, liberado pela manhã, são cerca de 23,5 mil pessoas a mais incluídas no
balanço do órgão em um único dia.
Ao todo, 142 cidades
do Paraná comunicaram problemas por causa dos fenômenos meteorológicos até
agora. Pelo menos 4.294 pessoas ficaram desabrigadas, com 3.733 ainda em
abrigos. O número de desalojados (que estão em casas de parentes ou amigos) é
ainda maior: 14.551 deixaram suas casas, e 13.286 deles ainda permanecem fora
de suas residências.
Somando os dois
decretos assinados pelo governador Beto Richa entre segunda e terça-feira e
também as declarações individuais de São Miguel do Iguaçu e Ortigueira, são 132
municípios em estado de emergência. Ainda ontem, União da Vitória, onde o nível
do Rio Iguaçu continua subindo, decretou estado de calamidade pública.
Chuva
causa pelo menos dez mortes no Paraná
As fortes que atingem o estado já ocasionaram dez mortes. Outras cinco
pessoas continuam desaparecidas. Leia matéria completa
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Saiba mais
O argumento de que só os grandes
municípios têm condições de manter estruturas para a prevenção a desastres é
rebatido pelo capitão, com veemência. “Numa cidade pequena, uma grande enchente
pode aniquilar o local”, reforça. As dicas passadas pelo militar incluem o
treinamento de pessoal e a criação de estruturas municipais. “Primeiro precisa
ser adquirida a consciência de que é um dever da gestão pública se preocupar em
proteger preventivamente a população. A atitude não pode ser apenas reativa”,
afirma. O trabalho deve incluir preparação para o enfrentamento de epidemias e
atendimento a múltiplas vítimas.
Apenas uma em cada quatro cidades do
Paraná tem plano de contingência a desastres naturais, de acordo com dados da
Defesa Civil, divulgados em novembro. Na prática, os planos de contingência
visam demarcar áreas críticas e cadastrar recursos e equipes de assistência a serem
acionadas em situações de risco.
Os municípios também falham no registro
adequado das ocorrências. O número de desastres é muito maior do que consta nas
estatísticas. Inclusive a política de distribuição de recursos e de prevenção
fica prejudicada pela falta de informação. As cidades também precisam ampliar o
número de Coordenadorias Municipais de Defesa Civil (Comdec), já que elas
existem em menos de 300 cidades do Paraná – e em algumas, só no papel.
A criação de entidades regionais, com
autoridade para evitar ocupação em áreas de risco, é apontada como uma solução
pelo geólogo Luiz Eduardo Mantovani, do Centro de Apoio Científico em Desastres
(Cenacid), da UFPR. Ele destaca que, além da estrutura precária – apesar de
estar em evolução – os sistemas de prevenção nas cidades não dispõem de
conhecimento para agir. Opinião semelhante tem Antônio Edésio Jungles, o
diretor do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (Ceped), da UFSC. “Não
basta ter o dado, é preciso gestão do conhecimento, saber como usar”, diz. Ele
reforça, contudo, que não basta os gestores públicos se empenharem. “Não dá
para fazer redução de risco de desastres sem participação da comunidade”,
finaliza.
Rodovias
têm 27 pontos interditados
Kelli Kadanus, especial para a Gazeta do Povo
Às 21 horas de ontem o Paraná ainda
registrava 27 pontos de interdição total em rodovias federais e estaduais.
Outros 18 pontos tinham algum tipo de restrição.
Nas estradas federais eram nove pontos
de interdição total, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Outros
dez pontos ainda apresentavam algum tipo de interdição parcial, como trânsito
em meia pista ou com restrição ao tráfego de veículos pesados.
A BR-153 apresentava três pontos de
interdição. No Km 328, em Imbituva, a pista cedeu por uma queda barreira; no Km
350, em Rebouças e no Km 364, em Cerro Azul, o problema é alagamento da pista.
Na BR-373 eram dois pontos bloqueados:
Km 421, em Candói, e Km 324, em Chopinzinho.
Nas estradas estaduais
havia ontem à noite 18 pontos completamente interditados. Outros oito pontos
apresentavam restrições, como tráfego em meia pista e restrição a veículos
pesados.
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