Visão de um trabalhador da Copel sobre o aumento tarifário
A disputa colocada na mídia e nas redes sociais sobre a culpa do
pedido de reajuste tarifário de 35% nas contas de energia dos paranaenses está
acirrada, e tanto a direção da Copel e o governo estadual, por um lado, quanto
a Aneel e o governo federal, por outro, têm se expressado com as armas que lhes
são dadas.
Mas, puxando pelo histórico das atuais gestões dos órgãos
envolvidos na polêmica, é preciso relembrar o que tem acontecido na Copel nos
últimos 3 anos e meio.
A atual direção da Companhia, desde o início, deixou bem claro a
que veio. Num seminário no início de 2011, ao qual foram convocados e
compareceram 2/3 dos engenheiros de todas as áreas de atuação, o presidente
falou em alto e bom tom que “a nossa principal tarefa” seria “aumentar os
dividendos distribuídos aos acionistas”.
Pois bem, dito e feito, promessa cumprida. A Copel, em 3 anos,
dobrou o percentual de dividendos para seus acionistas. E o Estado do Paraná,
apesar de controlar a empresa, não é o principal beneficiado disso, como
deveria ser,pois possui menos de 1/3 do total das ações.
Assim, quando a Copel e suas coirmãs Cemig e Cesp – que possuem
atualmente políticas quase idênticas de gestão – optaram por não atender ao
chamado do governo federal buscando a redução das tarifas, agiram coerentemente
com os interesses de seus acionistas, tão bem representados pela direção da
empresa. E os resultados aparecem no balanço, no recorde histórico de lucro
alcançado no primeiro trimestre de 2014, cujo componente principal vem da
Geração, tanto porque embolsa valores ainda mais caros das usinas em que não
aceitou renovar as concessões, quanto pelos frutos que têm rendido a geração
térmica no cenário de falta de água no país do início do ano. Ou seja, a
empresa e seus acionistas se alimentam do mercantilismo implantado pelas
privatizações da década de 1990 e ainda – lamentavelmente– vigente no setor.
Quando o presidente da Companhia veio a público exaltar aquele
lucro, fez declarações bipolares. Criticou o modelo do setor elétrico nacional,
mas glorificou o resultado corporativo, como se este não tivesse se beneficiado
diretamente daquele.
Agora, a Copel volta a público para “esclarecer” os motivos do
aumento da tarifa para o consumidor que ELA MESMA solicitou. Realmente, a Copel
Distribuição está tendo que comprar energia mais cara no mercado e precisa
repassar aos usuários. Mas a Copel Geração, por outro lado, está se
beneficiando disso. Que tal incluir nos motivos expostos nesse comunicado, de
forma bem franca, um tópico como “queremos que a população do estado compreenda
que nosso principal objetivo é dar mais dinheiro para os acionistas” ou “nós
privatizamos o lucro e agora temos que socializar o prejuízo”?
Vale incluir aqui, também, a forma como a atual gestão tem
tratado sua força de trabalho. Enquanto a participação dos acionistas dobrou, a
parte distribuída aos empregados diminuiu. Como se não bastasse, instalou-se em
algumas áreas um ambiente que beira ao terror, com assédio moral despudorado. A
comunicação interna é de um cenário catastrófico, totalmente o oposto dos
comunicados ao mercado.
Em nome da diminuição do custeio, corta-se benefícios dos
trabalhadores, diminui-se o quadro próprio, terceiriza-se a cada dia mais,
deixa-se de investir em equipamentos de segurança e em materiais para manutenção
e modernização da rede elétrica. Esse sucateamento fica evidente ao ver que a
empresa, que por muito tempo esteve entre as melhores, tem despencado ano a ano
nos rankings de eficiência e de satisfação do consumidor.
É a força de trabalho que faz o resultado de uma empresa e é a
força dos copelianos que tem feito durante 60 anos o maior bem público dos
paranaenses. Portanto, quando quiserem ir a público se eximir de suas
responsabilidades, falem em nome do governo do estado e da direção da empresa,
e não em nome da Copel, que é o nome de cada trabalhador copeliano.
Ulisses Kaniak, engenheiro eletricista, ex-presidente do
Sindicato dos Engenheiros do Paraná
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