Registro de mortes
violentas volta a crescer
Via Gazeta do Povo.
A comparação entre janeiro e março deste ano com o
mesmo período de 2013 mostra redução do índice no PR, mas a evolução trimestral
indica alta
Publicado em 09/07/2014 | FELIPPE
ANÍBAL
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No dia do vexame da seleção brasileira, a
Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) divulgou ontem – com atraso e
sem alarde – o relatório de mortes violentas ocorridas no Paraná nos primeiros
três meses deste ano. O índice recuou na comparação com janeiro a março de 2013
(-8,25%), mas revelou avanço nos trimestres anteriores, o que preocupa os
especialistas.
Resposta
Sesp ressalta que índice caiu na comparação ano a ano
Em seu site, a Sesp publicou uma nota
em que fala da queda dos homicídios dolosos no Paraná. O órgão compara o
primeiro trimestre deste ano com os três primeiros meses de 2013, mas não faz
qualquer análise da evolução dos números.
Em outra nota, encaminhada à Gazeta do
Povo, a Sesp comemorou os números, afirmando que “o Paraná têm conseguido
manter a tendência de queda já verificada no ano passado, no índice de
homicídios dolosos”. “Resultados que são fruto de ações articuladas das
polícias (inclusive com outras forças de segurança), estudos e de planejamento
estratégico”, diz o comunicado.
A Sesp ainda menciona “vigorosos
investimentos (...) feitos pelo governo do estado na área de segurança pública,
como nunca houve antes”. A nota ainda diz que o órgão continua com o trabalho e
o monitoramento permanente, “para que se obtenha melhores resultados”.
Entre janeiro e março de 2014, o Paraná registrou
745 mortes violentas (homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de
morte). O número corresponde a 27 casos por 100 mil paranaenses, quase duas
vezes acima do patamar de 10 mortes por 100 mil habitantes considerado
aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Nos últimos três anos, o índice de mortes violentas
vinha apresentando uma leve tendência de queda. Entretanto, a partir do segundo
trimestre de 2013, o indicador disparou, saltando de 608 casos para os 745
atuais: aumento de 22,5%.
Para o ex-secretário Nacional de Segurança,
coronel José Vicente da Silva, a nova escalada das mortes violentas no Paraná
indica uma falha grave no planejamento estratégico das forças de segurança do
estado e requer uma integração entre as corporações para conter o avanço.
“Já é suficiente para acender o sinal amarelo. É
bem provável que a polícia não esteja sendo eficiente no trabalho preventivo e
de polícia judiciária. Quando a criminalidade sabe que a polícia está em cima,
o crime arrefece. Parece que não é isso que está acontecendo”, avaliou.
O sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Grupo de
Estudos da Violência, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), destaca a
criação da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) como ponto
positivo. Entretanto, revela que sem a modernização das polícias, o estado
corre o risco de não galgar resultados expressivos.
“Até que se faça uma reforma estrutural nas
polícias, sistema penitenciário e no judiciário, dificilmente teremos uma
evolução efetiva. Vamos ficar sempre neste patamar. Um bom passo, seria a
aprovação da PEC 51 [proposta que prevê a reestruturação das policiais]”,
opinou.
Em seis meses, Curitiba teve aumento de 46% nos casos
O número de mortes violentas também está em curva
ascendente em Curitiba. Após uma redução gradativa ocorrida no ano passado, o
indicador chegou a 116 registros no terceiro trimestre do ano passado. Nos dois
trimestres seguintes, os casos se multiplicaram, aumentaram 46,5% e chegaram
aos 170 crimes fatais verificados no primeiro trimestre de 2014. O índice
corresponde a 38,8 mortes violentas por 100 mil habitantes.
Entre os cinco bairros que mais tiveram
assassinatos, quatro têm pelo menos uma Unidade Paraná Seguro – política de
segurança do governo do estado, que, na teoria, aposta no vínculo da polícia
com a comunidade. A Cidade Industrial, que também é o bairro mais populoso,
lidera a ranking, com 23 mortes violentas no primeiro trimestre de 2014. Cinco
de suas vilas contam com uma UPS.
Para o sociólogo Pedro Bodê, a manutenção de altos
índices de homicídios em bairros que sediam UPS indica que esta política não
tem sido eficiente. “Em princípio, parece que todo esse sistema está
funcionando precariamente. Se esses bairros estão recebendo mais investimentos
em segurança, deveriam ter melhores resultados”, observou.
A reportagem tentou contato com a delegada Maritza
Haisi, chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, para comentar as
estatísticas, mas ela não atendeu as ligações. No mês passado, a Gazeta do Povo
visitou as dez UPS de Curitiba e constatou que oito se resumiam a um módulo, em
torno do qual uma viatura patrulhava.
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