Professor ‘dá uma aula’ de Revolução Francesa para não ser linchado Read more:
FONTE O GLOBO
http://oglobo.globo.com/brasil/professor-da-uma-aula-de-revolucao-francesa-para-nao-ser-linchado-13088092#ixzz36FaiE8BG
SÃO PAULO — Confundido com um ladrão,
um professor de História foi espancado por moradores da periferia de São Paulo
e só conseguiu se livrar do linchamento quando, segundo ele, foi obrigado a dar
uma aula sobre Revolução Francesa. Ainda assim, André Luiz Ribeiro, mulato de
27 anos, foi levado para a delegacia, onde ficou por dois dias, já que o dono
do bar assaltado confirmou em depoimento que André seria o ladrão.
O professor contou que, socorrido por
bombeiros, teve de falar sobre a Revolução Francesa para provar sua inocência.
Os bombeiros informaram que “informações são improcedentes” e que não houve
“desrespeito ou deboche”. André conta que estava correndo na última
quarta-feira no bairro Balneário São José, quando um bar foi assaltado.
— Eu corro dez quilômetros todos os
dias, estava de fone de ouvido, sem identificação porque moro por perto, e fui
confundido com um dos três assaltantes. O dono do bar e o filho dele me
acorrentaram. Umas 20 pessoas me cercaram e começaram a me bater. Acorrentaram
meus braços e pernas e me colocaram de barriga para baixo na rua.
O professor foi socorrido por bombeiros
que passavam no local. Um deles, segundo Ribeiro, teria dito: “Se você é
professor de História, então dá uma aula sobre Revolução Francesa”.
— Falei que a França era o local onde o
antigo regime manifestava maior força, e que a burguesia comandou uma revolta
junto com as causas populares, e que havia fases da revolução. Falei por uns
três minutos e perguntei se já estava bom.
Ribeiro também diz que foram os
bombeiros que salvaram a vida dele pois enquanto ele dava a aula sobre a
Revolução Francesa para provar que era professor, ouviu o proprietário do bar
dizer que ia buscar um facão. Em seguida, a Polícia Militar chegou no local, o
levou para o pronto-socorro da região e depois o encaminhou para o 101º
Distrito Policial (Jardim das Imbuias), onde ficou preso até sexta-feira.
O proprietário do bar assaltado, Djalma
dos Santos, 70 anos, negou que tenha espancado o professor. Questionado se
tinha certeza de que Ribeiro era um dos assaltantes, ele desconversou.
— A população que acorrentou, que
bateu, eu não fiz nada. O que eu tinha que falar já falei na delegacia. Não
adianta nada ficar perguntando, não vou retirar o que disse. Eu gritei que era
ladrão e a população da rua foi atrás dele. Se ele não devia nada, vai dar uma
mancada dessas de estar correndo no meio dos bandidos na hora do assalto? —
afirmou o proprietário do bar.
O advogado de Ribeiro, Cláudio
Reimberg, afirmou que irá amanhã até o 58º DP (Jardim Mirna) registrar a
ocorrência de lesão corporal e tentativa de homicídio.
— Inicialmente, nossa prioridade era a
liberdade dele, até pela integridade dele. Agora, vamos registrar a ocorrência
e pedir ação indenizatória tanto do proprietário do bar, quanto do estado, já
que no 101º DP não foi registrada a ocorrência de agressão a ele, só do assalto
ao bar — afirmou o advogado.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP)
informou que o delegado André Antiqueira, titular do 101º DP, “se coloca à
disposição para ouvir em depoimento quem tenha novas informações para
acrescentar à investigação”, já que os criminosos que participaram do crime
ainda não foram presos.
“O professor foi preso em flagrante em cumprimento do artigo 302 do
Código Penal, já que a vitima o reconheceu como um dos participantes do roubo
ao estabelecimento comercial em duas oportunidades. A Justiça concedeu liberdade
provisória ao acusado”, diz nota da SSP
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