BRASIL
Negros são maioria das vítimas de mortes violentas, afirma Ipea.
Em cada grupo de 100 mil negros, 36
pessoas são mortas. Entre as pessoas que não são negras, o número cai para
15,2, afirma um estudo do Ipea com base em dados do IBGE. Para os
pesquisadores, racismo é uma das causas.
Um novo estudo do Instituto de
Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) comprova que as chances de um negro ser
assassinado no Brasil são muito maiores do que as de uma pessoa que não é
negra. O documento foi divulgado nesta terça-feira (19/11), véspera do Dia da
Consciência Negra.
Segundo o estudo Vidas
Perdidas e Racismo no Brasil, além da situação socioeconômica e do acesso
desigual às políticas públicas, também o racismo da sociedade brasileira tem
influência direta nos elevados índices de mortes violentas de negros. Em
consequência, a expectativa de vida dos negros é menor do que a de brancos e
índios. Isso vale principalmente para homens negros jovens, de baixa
escolaridade. A maioria das mortes ocorre por arma de fogo.
O estudo lembra que a população de
negros e pardos é de 93,9 milhões, apenas um pouco menor que a de pessoas não
negras, que é de 96,7 milhões.
Mais que o dobro de mortes de negros
Os últimos dados do IBGE afirmam que,
enquanto o número de homicídios para cada grupo de 100 mil negros (incluindo
pretos e pardos) é de 36, o de não negros (brancos, amarelos e indígenas) é de
15,2. A proporção é de 2,4 negros mortos para cada uma pessoa não negra.
A análise dos dados por unidade da
federação aponta que o número de mortes de negros é maior do que o de não
negros em todas as unidades da federação (especialmente nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste), exceto no Paraná.
Alagoas é o estado em que é
registrada a maior diferença entre a morte violenta de negros e não negros:
17,4 negros mortos para cada vítima de outra cor. Entre os negros, são 76
mortes em cada grupo de 100 mil pessoas.
"Essa diferença na taxa de
homicídios de negros e não negros não pode ser explicada meramente pela
diferença socioeconômica. Uma das razões certamente é o racismo", afirma
Daniel Cerqueira, diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e
Democracia do Ipea e um dos autores do estudo.
Expectativa de vida
O estudo também aponta que, por causa
da violência, a expectativa de vida dos negros é menor. Se consideradas todas
as formas de violência letal (homicídios, suicídios e acidentes), os homens
brasileiros de cor negra perdem 3,5 anos de vida, enquanto que os não negros
perdem 2,57 anos.
A diferença é ainda maior quando
considerados apenas os homicídios (modalidade de violência com maior incidência
de vítimas negras): o homem negro, ao nascer, perde 1,73 ano de vida; o homem
não negro, 0,81.
Novamente Alagoas é o estado que
registra maior perda na expectativa de vida para homens negros em decorrência
de homicídios: 4,08 anos.
"Isso significa que o negro que
nasce hoje em Alagoas tem a expectativa de viver 4 anos a menos, em
média", exemplifica Cerqueira. "Isso é um dado fundamental para
considerar o desenvolvimento local, o desenvolvimento dos países",
completa.
Racismo institucional
O canal direto que liga o racismo ao
índice de mortes violentas de negros no país é o racismo institucional, segundo
o estudo do Ipea. Essa forma de racismo, segundo Cerqueira, "tem a ver com
a sociedade valorizar a vida de um negro e a de um não-negro de forma
diferenciada".
O racismo institucional pode ser
percebido na atuação das polícias, por exemplo, quando analisadas as
estatísticas dos autos de resistência – nome oficial de mortes em ações
policiais –, afirma o pesquisador. Os negros são a maioria das vítimas.
FONTE - IPEA
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